segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Antes Doquinhas, agora Quadrado: além do nome, o que muda é a violência

Violência às margens do São Gonçalo. O chamariz da onda de assaltos são os estudantes

A consolidação das unidades do Instituto de Artes e Design (IAD), dos Instituto de Ciências Humanas e de Sociologia e Política (ICH e ISP) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) nas imediações do Porto e a proximidade do Campus I e II da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) tem favorecido o redesenho dos terceiros-lugares no município. Pela apropriação urbana dos estudantes, os lugares de encontro incluem hoje a comunidade das Doquinhas, às margens do Canal São Gonçalo: o popular Quadrado. As conseqüência, no entanto, não são de todo positivas: a movimentação no local tem atraído assaltos e perturbado os moradores dos arredores.
Para o estudante do IAD, E.R., de 21 anos, faltam lugares no município onde se possa se encontrar com os amigos para conversas despretensiosas ou simplesmente para ver o movimento. A Avenida Dom Joaquim e a Praia do Laranjal, segundo ele, não são prontamente acessíveis. O Quadrado teria sido escolhido por um questão de necessidade utilitária de traslado. Com a atenção do poder público, a reformulação do local teria consolidado o espaço como lugar de encontro. “Agora a gente vai mais por causa das reformas”, conta.
Há 20 anos moradora da rua de acesso às Doquinhas, a empregada doméstica Isabel Cristina, de 42 anos, conta que o ambiente familiar e de tranqüilidade daquele espaço se viu transformado por uma onda assustadora de assaltos e de agitação. “Era tudo calmo, tranqüilo, o pessoal se respeitava uns aos outros”, lembra. Em contraste, hoje, a intensa movimentação de sexta-feira a domingo tem tornado a vida no local “insuportável”. “É assalto, batida de carro, carro voando. Não tem sossego um minuto, não pode nem deixar a criança ficar brincando na rua”, reclama ela, preocupada com a segurança do filho de cinco anos.
A situação a tem obrigado a mudar os hábitos: não dorme mais na sala em função do ruído, deixou de tentar assistir televisão durantes os horários de “pico” e evita ao máximo sair de casa por medo da violência. “Quando só era a pobreza não fizeram nada, agora vem os chiques e resolvem fazer pracinha. Não dá pra sair de casa, a gente escuta toda hora gritos de socorro”, desabafa. Ela cobra medidas das autoridades quanto à segurança e à infra-estrutura: uma das demandas históricas da comunidade, a disposição de quebra-molas só agora teria sido providenciado e de forma pouco eficiente. Outro problema segundo ela que incitaria a violência no local é o consumo ostensivo de bebidas alcoólicas e de drogas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário